Todo problema do adulto pode ser gerado pelos pais na nossa infância?

Todo problema do adulto pode ser gerado pelos pais na nossa infância?

Não, não necessariamente, todo problema do adulto foi gerado pelos pais e a maneira com a qual nós escolhemos nossos parceiros e atuamos nos nossos relacionamentos é definida lá na nossa infância, através das nossas relações parentais.

Se você sente insegurança nos seus relacionamentos, procura o tempo todo por validação e aprovação por parte do seu parceiro ou parceira, você teve dificuldade de introjetar o amor lá na sua infância.

Você pode até pensar: Ah, mas eu não tenho dificuldade em me relacionar, tive pais bem comuns, nunca tive problemas com eles. Necessariamente nada grave aconteceu.

Um pai ou uma mãe ou os dois saem para uma viagem a trabalho, só que a criança ainda é muito pequena. Essa criança não consegue codificar isso, e por algum tempo ela sente, vivencia aquele ‘abandono’ e registra aquilo em sua mente. Outro exemplo, uma criança está brincando em um parque e a mãe, então, se distrai e essa criança cai do balanço. Em alguns segundos ela está ali chorando até que a mãe se dê conta e venha salvá-la. Naquele instante, a criança registra aquilo como: “Não sou cuidada, não posso confiar no mundo aqui fora, porque o mundo é muito perigoso, não posso confiar em quem não me protege”.

Uma das grandes descobertas de Freud foi que os traumas não necessariamente foram vivenciados aqui no mundo concreto, mas, sim no mundo psíquico, internamente. É como a criança vivencia aquilo.

Vamos refletir sobre algumas situações:

-Filhos do mesmo pai e da mesma mãe são diferentes?

-Gêmeos univitelinos são diferentes, tendo o mesmo pai e a mesma mãe?

Sim, eles podem ter vivido as mesmas situações a vida toda, só que cada um vai internalizar experiências de infância de um jeito diferente. O que para um é uma brincadeira, para o outro pode ser uma ameaça.

Vou dar um exemplo clássico aqui, uma moça de 25 anos há um ano está morando junto com o namorado. Ela é super apegada a ele e morre de medo de perder esse namorado que tanto ama. Essa moça foi deixada pelos pais muito cedo, eles foram para outro país para ganhar dinheiro e mandavam para ela e a avó que ficaram no Brasil.

Eles sempre escreviam, ligavam, mas, ela sentiu isso como um abandono da figura materna e paterna. Ela procurou terapia, porque esses sentimentos afloraram agora, pois o namorado vai trabalhar por quarenta dias na Austrália, ela sente a ameaça desse trabalho com um sentimento de abandono.

Ela já é uma adulta, sabe contabilizar esses dias, claro tem consciência que vai ficar com saudade, mas ela não consegue se organizar afetivamente. Por quê? Porque o registro psíquico que ela tem é de que se vai embora, não volta, ela será abandonada mais uma vez.

Então, ela começa a entrar num sofrimento profundo, profundo e começa a projetar isso na relação a ponto de querer impedir que ele viaje sem ela. Só que ela não pode, porque ela tem as questões dela aqui, ela tem essa consciência e está trabalhando isso em terapia.

Meu pai teve um ataque cardíaco, eu tinha três anos de idade, ele morreu a caminho do hospital. Eu não sabia ainda o que a morte representava, na minha cabeça, cresci com o sentimento de abandono da figura paterna que nunca mais voltou.

Na adolescência, projetava nas figuras masculinas o pai que eu não tive.

Meu primeiro namorado era quinze anos mais velho que eu. Buscava um pai, queria alguém que cuidasse de mim, que me protegesse, que fizesse uma espécie de paternagem, o que nunca aconteceu. Isso determinou e influenciou a maneira como eu me relacionava na vida adulta.

De fato, ter um pai ausente deixa marcas emocionais e psicológicas na vida adulta. No entanto, isso não significa que não seja possível seguir adiante e encontrar a felicidade. Se você tem um pai ausente, o primeiro passo para seguir em frente é aceitar como se sente em relação a isso.

É importante ter em mente que você não é culpada pelas escolhas dos outros, mas é responsável por traçar seu próprio caminho. Ficar remoendo o passado não mudará a situação, está nas suas mãos ter um futuro mais leve e feliz.

Você pode conseguir ficar mais em paz se passar a valorizar as pessoas que tiveram um papel fundamental no seu desenvolvimento, como a sua mãe, tios,  seus avós ou seus padrinhos. 

Se você sente que é incapaz de superar essa dor, talvez seja o momento de buscar apoio psicológico. Um psicólogo terá as ferramentas necessárias para ajudar você a ver essa relação de outro prisma, sem buscar preencher todo esse vazio com relacionamentos que não te levam a lugar algum.