Como sobreviver ao fim de um relacionamento

O outro foi embora, jogou fora o relacionamento, destruiu os seus sonhos e disso tudo você ficou só com duas coisas: tristeza e dor. Um sentimento horrível e sufocante que só quem já passou por um fim de relacionamento conhece. É algo tão intenso que a gente chega a pensar que não vai dar conta, não vai aguentar.

 

“O tempo cura todas as feridas”. “A Fila anda”. “Um amor perdido, dez encontrados!”

 

Você certamente já escutou frases assim ou até já disse algo parecido. Mas, para quem acabou de ser deixada, esse tipo de conselho chega a ser irritante e ofensivo e sabe por quê? Porque, embora a separação de casais tenha virado quase uma banalidade nos dias de hoje, a separação romântica é um dos acontecimentos, psicologicamente, mais dolorosos de se viver.

 

Na verdade, uma separação desencadeia os mesmos processos psíquicos que uma morte. A pessoa entra em estado de luto, mas, por alguém que ainda está vivo e simplesmente foi embora, deixou de te amar e de querer compartilhar a vida com você. E, isso é tão doloroso que algumas pessoas desenvolvem depressão, crises de ansiedade e descompensações emocionais de diferentes tipos.

 

Tem até quem busque fazer essa dor passar abusando do álcool, de outras drogas ou ainda, adotando comportamentos sexuais compulsivos ou então autodestrutivos.

 

Então, se você conhece alguém que está passando por uma separação amorosa e anda dizendo frases do tipo: “Ah, vc está exagerando! isso vai passar…”, pare de subestimar a dor do outro, tenha mais paciência e empatia.

 

Quando a gente ama alguém, temos a ilusão da permanência, da constância e por isso criamos um monte de projeções para o futuro e quando, de repente, tudo isso acaba é como se a vida estagnasse.

Nesse parar, nosso mundo, nosso equilíbrio, nossos sonhos e tudo mais entra em colapso. É normal que você pense que não vai dar conta de tanta dor e que não vai sobreviver a isso. Só que, por mais que não faça o menor sentido para você que vive, nesse momento essa dor, você vai sobreviver, SIM!

 

Para te ajudar a suportar e ultrapassar esse momento, presta atenção nessas dicas:

 

Dica nº 1- Aceite a dor

 

Aceitar a sua dor não significa gostar do que você está sentindo, significa não negar, nem brigar com seus sentimentos, nem tentar fazê-lo não existir, se criticando por sentir: tristeza, raiva, angústia, culpa ou então pensamentos que se repetem, se repetem, se repetem e se repetem. Entenda que durante uma separação, você vai ficar cheia de emoções negativas e acredite, isso é completamente normal.

 

Por isso, acolha e respeite essa avalanche de emoções desagradáveis. Lembre-se que você está de luto por um morto-vivo e aceitar o fato de que as coisas não vão ficar bem por um tempo é muito importante.

 

Um comportamento bem normal para quem está vivendo esse momento é se encher de atividades, saídas, festas e amigos, para não ter tempo de pensar no que está acontecendo. Por um lado, isso é mesmo bom, mas é importante que você busque o equilíbrio entre fugir de você mesma e ter tempo para pensar nos seus sentimentos e na relação que acabou.

 

Já que a proposta aqui é aceitar sua dor para conseguir ser dona dela e elaborá-la, questione-se:

 

-“Onde é que eu estou quando eu penso nessa pessoa que me deixou?”

-“Como é que eu me sinto quando vem esses pensamentos?”

-“Quais as sensações físicas e dificuldades que venho sentindo desde o nosso rompimento?”

 

Esse tipo de exercício ajuda que você se conecte a avaliar suas emoções.

Para se curar, você tem que aceitar que dói conhecer e entender essa dor, para ela começar a ser sua e não você dela.

 

 

Dica nº 2 – Dê-se o direito de lamentar

 

Como diria Lulu Santos, “ainda vai levar um tempo pra fechar o que feriu por dentro, natural que seja assim, tanto pra você, quanto para mim”. E, é verdade, quando uma relação acaba isso é fonte de muita dor psíquica e cada um vai levar um tempo próprio para curar essa ferida.

 

Embora as pessoas ao seu redor digam frases do tipo: “Ah, mas já era para você estar virando essa página!” ou “Você está demorando muito a superar!”, não dê ouvidos a isso, afinal, a velocidade do luto de cada pessoa é particular, é individual e dependendo do quanto tempo durou esse relacionamento, há pessoas que podem precisar de até um ano para se recuperar.

 

Nossa, um ano? Isso é muito tempo!

Como vou saber quando esse sentimento passou dentro de mim?

Simples, quando você conseguir pensar na outra pessoa, sem se sentir rasgada de dor. Quando isso acontecer, aí sim, você vai ter a noção de que finalmente a idealização de ter perdido “o grande amor da sua vida” acabou e que você já conseguiu cair na real o suficiente para reconhecer tudo o que essa relação te trazia de bom, mas, também tudo o que ela te roubava, porque ela te roubava muita coisa.

 

Comecei essa dica dizendo que você precisava se dar o direito de lamentar a perda e isso é mesmo muito importante.

 

Num primeiro momento as pessoas mais próximas até vão estar disponíveis para lhe ouvir, mas depois de algumas semanas, a menos que você tenha um psicólogo que lhe acompanhe, se você continuar desabafando com os amigos, você vai começar a ser vista como a pessoa chata ou problemática.

 

Então a minha proposta é que você se dê sim o direito de lamentar.

 

E sabe como você vai fazer isso?

 

Escrevendo cartas para a pessoa que te deixou, você não precisa e nem vai enviar essas cartas.

 

A gente pensa por imagem e para conseguir escrever suas lamentações, você precisa, obrigatoriamente, fazer uma tradução para os símbolos escritos de todos esses sentimentos que estão aí represados dentro de você.

 

É como se você obrigasse a sua mente a colocar as coisas em ordem, ou seja, lamentar-se por escrito, vai ajudar sua cabeça a elaborar e a sobreviver a essa perda.

 

Além disso, esse tipo de desabafo acaba se tornando um ritual de encerramento, como se estivesse escrevendo a última ou então as últimas páginas de uma novela. Por mais estranho que pareça, se lamentar, numa certa medida é uma forma serena de dizer adeus.

 

Dica nº 3 – Administre a falta que o outro lhe faz

 

Nos primeiros dias, ausência do outro, de fato, é muito difícil. E as vezes até insuportável. Mas, por mais dolorosa que seja essa situação, tente compreender que o seu cérebro, quimicamente, está falando. Você está vivendo uma crise de abstinência muito parecida com a mente de pessoas que são dependentes de algum tipo de droga.

 

Por isso, vem a sensação terrível de que você não vai sobreviver sem a sua droga e junto com isso a necessidade incontrolável de ligar para o outro, enviar mensagem, textão no WhatsApp ou então espionar as redes sociais dele.

 

Não faça isso! nada disso, nesse momento, vale a pena, é tentador, eu sei, mas não faça!

 

E sabe por que estou lhe pedindo isso? Porque para conseguir administrar a falta que o outro te faz e superar a crise de abstinência que o seu cérebro está fazendo você experimentar, é importante não ter mais contato ou notícia de quem te deixou.

 

Sabe por que?

 

Para desintoxicar, para começar o seu processo de recuperação. Por isso é importantíssimo devolver as coisas do outro o mais rápido possível. O restante do que for seu, como: alguns objetos, fotos, roupas, presentes e tudo que te traga lembranças dolorosas, coloque em uma caixa, lacre e guarde em algum lugar longe dos seus olhos. Depois de um tempo, quando você já estiver emocionalmente mais estável, você decide o que é que você vai fazer com tudo aquilo.

 

Além disso, se for possível, bloqueie essa pessoa de todas as suas redes sociais, esse conjunto de ações além de lhe ajudar a administrar a falta que você sente, também é importante para iniciar o processo de desmame dessa droga.

 

Eu sei que o que estou  dizendo, pode parecer para algumas pessoas meio radical, mas ou você faz isso ou vai ser como se você tivesse tentando parar de fumar e alguém tivesse, constantemente, entregando cigarros a você ou então fumando na sua frente, depois de um tempo você vai ceder e aí você vai voltar a fumar.

 

Tenha sempre em mente que quem mantém contato, logo depois de um rompimento, leva muito mais tempo para superar todo esse sofrimento.

 

Dica nº 4 – Descubra o que não deu certo na relação

 

Quando você não entende o que aconteceu, o luto fica ainda mais difícil.

 

Do mesmo modo, quando alguém morre, qual é a primeira coisa que você pergunta? “Morreu do que?” Isso porque os motivos de um evento ajudam a mente a organizar melhor os sentimentos.

 

Porém, em alguns casos, vai ser necessário aceitar que as explicações não vão vir do outro. Quando isso acontece vai ser preciso você procurar respostas em você mesma.

 

Muitas vezes quando um relacionamento termina, a gente tende a idealizá-lo como perfeito. Mas, pensa comigo, se acabou é porque não estava dando certo e a perfeição estava bem longe de existir ali. Então, comece se perguntando: “o que estava errado?” “Quem ou o que fez essa relação acabar?” ou “o que nos ligou quando a gente se conheceu?” ainda, “no que a gente mudou com o passar do tempo?”

 

As vezes ao se fazer perguntas sobre os motivos e a forma como vocês se relacionavam, você acaba percebendo que o seu relacionamento já estava indo mal há muito tempo e que ao invés de amor, o que havia era muito sofrimento envolvendo a história de vocês.

 

Na busca de compreender o que não deu certo nessa relação, considere que muitas vezes quando a gente se pergunta sobre os nossos fracassos românticos, a gente acaba se dando conta de que às vezes as nossas histórias de amor e as nossas rupturas são bem parecidas.

 

Sempre os mesmos tipos de pessoas que nos atraem, brigamos sempre pelas mesmas coisas, temos atitudes e sentimentos devastadores e exagerados que se repetem e por aí vai…

 

Em outras palavras, você acaba um relacionamento, muda o nome e aparência da pessoa com a qual você se relaciona, mas, na verdade, é sempre o mesmo tipo de pessoa que você tem se relacionado. Preste atenção nisso e carregue essa ideia como aprendizado.

 

Além disso, na busca por entender o que não deu certo nessa relação romântica, também é interessante se perguntar que crenças ou padrões de vida você repete nos seus relacionamentos? Será que você repete sempre um padrão de desconfiança, tipo: “as pessoas podem me trair e me decepcionar?” ou talvez você esteja fixada em um padrão de imperfeição, como, “se os outros soubessem quem eu realmente sou, nunca me amariam de verdade” ou então um padrão de dependência do tipo “nossa eu não aguento viver sozinha e sei que não aguento mesmo” ou quem sabe você esteja em um padrão de comportamento ligado a privação emocional do tipo “ninguém jamais será capaz de me amar e sempre foi assim, desde que eu era criança” e, esses são padrões que valem a pena você se perguntar se existem dentro de você, pois são engatilhados após uma separação.

 

Por fim, lembre-se de uma coisa: SIM! Você está com dor. E sim, você tem que viver com essa dor até que ela seja elaborada dentro de você. Nenhuma fórmula mágica de nenhum psicólogo, de nenhum tarólogo, benzedeira, pai de santo, de ninguém vai te salvar dessa realidade.

 

Tome cuidado para não glorificar sua dor, às vezes, a gente sente tanto a falta do outro que acaba se apegando ao sofrimento que a ausência desse outro deixou. Acontece que ninguém vai conseguir curar uma ferida se ela se tornar algo como se fosse de estimação para você. Tenha consciência de que não há um estereótipo ou regra a ser seguida para exteriorizar esse luto. Ele é o reflexo da sua capacidade emocional de lidar com momentos de fragilidade e de se comportar no seu dia a dia. Não há certo ou errado, obrigações ou motivos para sentir vergonha. Permita-se dar tempo ao tempo e você vai perceber que, aos poucos, tudo ficará melhor.

 

Confie!